sexta-feira, 11 de maio de 2012

Cartomancia Italiana - Sibila Napoletane


Pratico cartomancia italiana há muitos anos, ganhei meu primeiro baralho aos nove anos de idade de minha mãe, também cartomante hereditária. Me lembro que minha casa vivia cheia de gente, tanto pra "ler a sorte", como nos referíamos ao ato de consultar o baralho, ou para "se benzer" com a minha avó, que possuía uma extensa gama de rezas para os mais diversos problemas, de quebranto e mal olhado a  cobreiro e bucho virado, as pessoas com aproximadamente quarenta anos, certamente se lembrarão de alguma vez, na infância, terem sido "benzidos". Gostaria de nesse ponto acrescentar que minha avó nunca cobrou um centavo por qualquer benzimento, pois, segundo ela, era um dom que deveria ser compartilhado gratuitamente.

No entanto, apesar de ter começado a aprender cartomancia ainda na infância, só comecei a realmente ler para os outros na adolescência, para as amigas e para mim mesma, questionando o baralho, evidentemente, sobre os garotos da escola. Titubeante no começo, mas adquirindo prática com as leituras, juntamente com a clientela já estabelecida da minha mãe, para eu me tornar cartomante profissional foi só uma questão de tempo.

No entanto, embora eu conserve a leitura tradicional da minha mãe como base, testada e experimentada pela família ao longo de muitos anos, ainda fui estudar as fontes desse tipo cartomancia e me deparei com muitos métodos, muitas culturas, vários sincretismos e assimilações que só fazem enriquecer a cartomancia napoletana. Então vamos a ela, propriamente dita.

O baralho Napoletane é um semi-espanhol, a informação histórica mais confiável é que ele tenha sido criado entre os séculos XVI a XVII, o que faz sentido, visto que minha tataravó desembarcou no Brasil em abril de 1892, ou seja, no século seguinte. Ele é uma sibila italiana com iconografia muito semelhante à baraja espanhola, porém, há algumas diferenças estruturais, no baralho Napoletane, você possui apenas as cartas de Às a Sete, assim como as da corte: Cavaleiro, Pajem e Reis, ou seja, nesses pontos, ele difere da baraja, que é completa, de Às a Reis e, ainda por cima, possui a figura da Rainha.

Aprender o Napoletane não exige de ninguém conhecimento prévio, pois ele não segue a sequência de interpretação estrutural e simbólica de outros oráculos, como por exemplo, o Tarô, um caso para ilustrar seria a série de Espadas que, nos arcanos menores do Tarô, nos remete ao elemento ar, ao racional, ao mental. Já nesse sistema de cartomancia italiana, as cartas do naipe de espadas na maioria das vezes não estabelecem nenhuma relação com o elemento ar ou ao ego, pelo contrário, algumas remetem ao elemento terra e outras a água. Em outras palavras isso significa que ele está mais próximo, para efeitos de ilustração, ao baralho cigano (que também é cartomancia!). Porém, igualmente, ele não segue a mesma linha da interpretação (até por utilizar uma numeração diferente em sua maioria), por exemplo: A carta 14 do baralho cigano - A Raposa, é um sete de paus, ela traduz esperteza, engodo, etc... O sete de paus, no Napoletane, mostra evento inesperado, uma surpresa, algo que vem do nada, ou seja, mostra apenas o evento, não o qualifica.

Esse é o ponto FORTE da cartomancia napoletana,ela não qualifica praticamente nada, ela apenas diz acontece ou não acontece, direta e objetivamente, sempre acrescentando dados (factuais) sobre o evento citado ou questionado. Eu o considero perfeito paras as pessoas (maioria, segundo minha experiência) que desejam saber se "vai ou não vai?" e, mais ainda "e como irá (ou não) na prática?". O nível de precisão dele é altíssimo, com detalhes inesperados que muitas vezes o cliente nos reporta espantados numa consulta futura e, não raro, eles entram em contato apenas pra dizer "Não é que foi mesmo do jeito que você disse?".

Não me perguntem a mágica, eu não saberia dizer, porque não há nada de ritualístico ou religioso no uso desse baralho, até pode haver no preparo do mesmo, mas jamais no uso, no "abrir cartas", é tudo muito simples, embaralhar, cortar e tirar segundo o método a ser utilizado, nada mais. Por esse motivo, eu tendo a acreditar que o Napoletane, assim como qualquer cartomancia, haja vista o baralho cigano, considerado como "o fofoqueiro" tem essa natureza devido a pertencer ao mundo da manifestação, da forma, do feminino, falando em um sentido mais esotérico, digamos que ele sua energia seja mais "lunar", mas, claro, isso se trata apenas de uma teoria pessoal, não comprovada.

Eu amo meu baralho. Aprendi com o passar do anos a utilizar outros oráculos, mas, confesso, em termos de  precisão a curto e médio prazo, ele é imbatível, seja pra mim ou para as pessoas que já o utilizaram comigo ou com a minha mãe, nas últimas décadas.


Pax et Lux

0 comentários:

Postar um comentário